quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A arte de "descolar a platéia do encosto da cadeira"

Dizia Lorca: teatro são duas tábuas e uma paixão. Aurélio, completando-o, diz que teatro são duas tábuas, uma paixão e uma platéia, dizendo que "a razão do teatro não está no palco, está na platéia".

Aurélio diz que o uso dos efeitos de luz instiga a curiosidade do espectador, se exige dele o reciclar de sua leitura do espetáculo, de forma que ele se descola da cadeira saindo da recepção passiva para a recepção ativa. "É preciso estimulá-lo a receber esta nova informação."

Para que o público flutue com a luz, para chamar sua atenção para o efeito, mas não muito, descolando um pouquinho o espectador da cena, Aurélio revela um princípio básico da operação de luz: "tornar presente a luz que entra para começar a sair com a luz que está em cena". Assim, apontando o foco da luz que vai entrar, ela já estará em cena quando a geral for saindo.

Essa atenção especial à nova informação que um efeito de luz traz faz com que o espectador se afaste do encosto da cadeira e incline o corpo e o interesse em direção ao palco, buscando decifrar os mistérios daquela cena.

Aurélio conta que, da cabine de operação, repara a movimentação do público sentado a cada novo efeito operado em cena. Conta também que, no início de sua profissão, estava operando uma luz de Jorginho num espetáculo em que havia uma coroação de um rei. Nesse momento, não havia nenhuma mudança de luz, Então, por conta própria, acendeu um dia um pino na hora que a coroa era colocada na cabeça do rei, e pela primeira vez, o público aplaudiu. Aí, Aurélio percebeu o poder da luz para transformar uma recepção passiva numa recepção ativa.

Afinal, "toda nossa criação é voltada para o ponto de vista. A razão do que fazemos não está no palco, está em quem nos vê".