sábado, 19 de novembro de 2011

"Tudo informa luz"



Aurélio de Simoni conta que em 1979 fez sua primeira luz de teatro adulto, em "Ponto de Partida" (Guarnieri). Tinha um momento âmbar e quando o personagem ia subindo a montanha, ele projetava um luz azul na parede, e o corpo do ator, interceptando essa luz, projetava uma sombra nesta parede azul. Escondeu a fonte de luz para ficar mais mágico. Jorginho foi, e Aurélio perguntou o que ele achou deste momento da luz azul, e Jorginho perguntou: Porque azul? E ele pensou e disse: para ficar bonito. Aí Aurélio entendeu que uma luz deve ajudar na locução da cena e não ser um efeito separado dela. "Devia ter continuado no âmbar".



Aurélio disse que não existe luz certa e luz errada. Existe gostei e não gostei, e como sua mãe lhe dizia, gosto não se discute. Falou que com luz, trabalha-se com linguagem subliminar e que existe também a luz crítica que gera o riso. Acrescentou luz errada seria a de cuja leitura é independente da linguagem do espetáculo, o efeito pelo efeito. Disse que no teatro há um cara com a batuta na mão, o maestro – que tem a partitura – enquanto os músicos têm apenas sua parte, e que este maestro é o diretor. Luz não é um exercício particular. Trabalhando-se com teatro se trabalha com a imponderabilidade e não existe matemática, existem formas.



"O teatro é uma arte coletiva por excelência".



Falando do passo a passo da criação, Aurélio ressaltou três ações do ofício do iluminador.



1- Solicitar o texto. O autor propõe através de rubricas situações de luz. Está no texto a informação de que se é um drama, um besteirol, uma comédia em pé... Está no texto as passagens de tempo, como em "Esperando Godot", em que anoitece rapidamente ou há um hiato de tempo entre o dia atual e o próximo dia. O autor informa luz. Que autor é esse? É contemporâneo? É de que época? Um Brecht, por exemplo, pede uma luz sem cor, para manter o público distanciado, para não enlevar ninguém. Aurélio diz ser muito intuitivo.



2- Vou trabalhar com que diretor? Uma luz para Celso Nunes é completamente diferente do que uma luz para Amir Haddad. Alguns diretores falam "Ah, é o Aurélio que vai fazer a luz?" e aí deixam tudo por conta dele. Outros diretores falam "Aurélio, vamos conversar". Aurélio prefere os que falam "vamos conversar". Porque por mais tempo de calçada que ele já tenha, é importante saber dos anseios e das necessidades do diretor para com a peça. Senão ele tem que esmiuçar a cabeça daquele cara para saber que luz fazer. "O Moacir Chaves fica comigo na cabine." Diz que quem não conhece os dois vai achar que estão brigando, mas que é o diálogo deles que trabalham juntos há vinte anos. Em 'Labirinto' tinha um momento que a Adriana ia cantar, Aurélio pôs uma contraluz rosa. Moacir disse "você vai colocar esse rosa viado?" Aurélio respondeu "vou!". Diz que ambos fazem um trabalho conjunto, o que lhe dá muita satisfação ao chegar ao resultado. Lembra da montagem de Macbeth, em que usou apenas 60 micropares. "Era um breu". Aurélio diz aos diretores "Confia no meu tato". Diz que é preciso ter psicologia para lidar com pessoas de teatro, que costumam ser mais corajosas. Hoje, o termo direção geral traduz melhor a idéia do diretor como o maestro da grande orquestra que é o teatro.



3- Ver o ensaio – o grande ato da criação. É quando o iluminador tem contato com o materializado e com a distribuição da cena na cenografia. "É o grande arco e tem várias flechas" pois é quando se tem o contato com a cenografia, com o figurino, com a música, com os adereços, com a produção e com os atores (a parte viva do teatro – o respeito deve ser mútuo). "Tudo informa luz". Em "Assim é se lhe parece", Wilker se levantava, dizia poucas e boas e saía de cena. Um dia, num ensaio, antes de sair de cena ele deu uma parada, olhou para trás e aí saiu. Aurélio então fechou uma luz no rosto dele quando ele olhava para trás.



Para Aurélio, "o iluminador é um privilegiado, porque tudo informa luz". Mas ele "pode acabar com um espetáculo".



Iluminar é mostrar o trabalho dos outros e é uma arte que deve estar integrada com todos os elementos cênicos.



"A luz só acontece onde ela reflete". Aurélio falou o princípio da fumaça volátil (de uma máquina quente) e da fumaça de uma máquina de gelo seco (que é uma fumaça fria que fica em baixo, numa proximidade de 30cm do chão) é este: a luz se reflete pelas micropartículas do ar desenhando o caminho da luz.



"Tem cenário? Tem luz. O cenário determina muita coisa". Iluminar um cenário é mostrar a cenografia na sua plenitude. Quando Aurélio estava começando, Yan Michalski elogiou sua luz mas disse que faltava a luz da continuidade cenográfica, a qual Aurélio explica ser "aquilo que o público vê numa mensagem subliminar". Aurélio percebeu que tinha uma cena em que a personagem abria a porta, e que ele não colocou um refletor para fazer a luz que vinha de fora. Agradece Yan pela crítica. Disse que se um personagem sai de cena dizendo que vai para a cozinha, ele com certeza coloca um recorte de luz como se houvesse uma cozinha na coxia. Falou das luzes cenográficas, que pode ser um abajur, um lustre ou até uma janela.



Há uma vantagem no cinema, que é o direcionamento da atenção do espectador. Já no teatro, a que o Aurélio chama de "arte viva", são os artifícios da iluminação que sublinham a ação principal, que orientam o olhar do público. Já as luzes laterais e a contra luz sublinham o volume.



A respeito do foco, conta que, trabalhando com Aderbal, foi fechar um foco apagando todo o resto. Aderbal lhe disse "mas Aurélio, o cenário continua lá". Aurélio então manteve a contra-luz e nunca mais, a não ser que exigido para troca de cenários, usou um foco eliminando a locação. Um aluno observou que em "As Polacas", há um foco em um buquê de rosas durante todo o espetáculo. Aurélio citou a frase: "Aurélio detesta B.O.", frase que já foi até usada em cena no espetáculo "Bárbara não lhe adora". Lembra que "iluminar é mostrar o trabalho dos outros", o que não diminui o valor de seu trabalho, mas o enobrece. "Tudo informa luz".



Segundo Aurélio, o iluminador deve ser dotado de sensibilidade, criatividade e técnica. "O dia em que minha criança morrer, eu paro de fazer luz".



"O mínimo que podemos fazer é o melhor".

sábado, 12 de novembro de 2011

Tipos de Refletores




"No princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra porém estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Disse Deus: haja luz; e houve luz. E viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas. Chamou Deus à luz Dia e às trevas, Noite. Houve tarde a manhã, o primeiro dia."



E da escuridão fez-se a luz.


"Frases do Aurélio: só existe luz quando nós temos a sombra". Estou fazendo a Oficina de Iluminação Cênica com nosso amado mestre, Aurélio de Simoni. Desde quando fui estagiária com ele, ele sempre foi cheio de ensinamentos e frases iluminadas. As chamadas "frases do Aurélio", ele diz, revelam a forma como ele vê o teatro, ou ao menos o que o faz prazeroso de ali estar, ou seja, não apenas a executando sua função. Outra de suas frases: "Quanto maior o conhecimento técnico, mais asas à sua criação". Como estou a anotar todas as aulas da oficina, vou dividir aqui alguns dos conhecimentos que estou apreendendo.



Para começar, o básico do trabalho do iluminador, conhecer os tipos de refletores e suas especificidades.



Aurélio mostrou nas Dicas de Iluminação, de Valmir Perez (UNICAMP), os tipos de refletores mais utilizados no Brasil:



PC (plano-convexo)



Sua lente é no lado de dentro plana e no lado de fora convexa. Ele é bipino. Tem os Bandós, que no inglês se chamam Barn doors, que se abrem e se fecham para determinar a área de atuação da luz emitida.



Para luz geral, se manifesta numa luz mais equalizada. Já para os banhos, a equalização é menor.



Emite uma luz dura, se sem difusor, e uma luz soft quando com difusor.



Usando como filtro o Silk, se as estrias são verticais, a luz é difundida na horizontal e se elas são horizontais, a luz se difunde na vertical.



Existem luzes de até 40W, cujo filamento de tungstênio fica no vácuo e lâmpadas de até 40W em cujo bulbo há argônio. Mas a luz de maior intensidade é a Halógena, em cujo bulbo, de quartzo, há gás halogênio.


A luz do PC é mais definida, a área de atuação fica bem delimitada, mas não tanto quanto a luz do Elipso.



Se a lâmpada for de 500W, a carcaça é de porte menor. Se for de 1000w, o chassi é maior.



Se a lâmpada se colocar mais próxima da superfície refletora, a área de atuação do foco será maior. Conforme a luz vai se aproximando da lente, a abertura do foco vai se fechando e ganhando mais intensidade (maior concentração)



Possui a alça de sustentação e o caixilho (o porta-gelatina)



Fresnell



O Fresnell assim se chama pois sua lente foi inventada por Augustin Fresnell.


Possui o mesmo chassi do PC, também com bandós para recorta a luz, porém sua lente é plana e possui círculos concêntricos, os círculos eliquodais.



Sua luz é intensa no centro e conforme vai ganhando abertura vai diminuindo num degradê. Não é definível onde a luz acaba. É uma luz mais suave, mais difusa.



Scoop



Muito utilizado na fotografia, é uma parábola refletora que difunde a luz em quase 180º, sendo uma luz bastante dispersa.



PAR



Parabolic Aluminized Reflector de diâmetros 64, 56 (Loco light – utilizada em locomotivas), 38 (o Pin Bean que emite um facho cilíndrico) ou 20, cada um com seu ângulo de espelhamento.



Seu foco é ovalado (exceto a pino) e muito brilhante.



Não abre nem fecha foco. Seu recurso são as diferentes lentes:



FOCO 1 (VNSP – Very Nerrow Spot) emite o foco mais fechado. A lente é lisa e transparente.
FOCO 2 (NSP – Nerrow Spot) difunde um pouco mais a luz. Sua lente é fosca.
FOCO 5 (MFL – Medium Fluid Light) difunde mais a luz. Sua lente possui estrias, raias.
FOCO 6 (WFL – Wide fluid Light) difunde mais ainda a luz. Sua lente possui mais estrias, raias.



Conforme se ganha no aumento do diâmetro de alcance, se perde em definição do foco.


Exemplo de Lâmpada PAR é o Sealed Bin, o farol do fusca. A lâmpada PAR surgiu, tal qual como conhecemos hoje, em 1956. É o principio do farol de carro: uma unidade é composta por uma lâmpada, o espelhamento e a lente e se ela queima, todo esse conjunto deve ser jogado fora.


Há 20 anos, o preço de uma lâmpada PAR era muito elevado, e sua vida útil era da apenas 400 horas (metade do que é hoje) e caso ela queimasse, trocava-se apenas a lâmpada de quartzo por uma nacional muito maior, e em consequência, haja visto que a eficiência do conjunto é proporcional à pontualidade da fonte luminosa rumo ao ponto foco da parabólica, sua eficiência caía 60%. A esta, dava-se o nome de lâmpada ÍMPAR, que demonstra ignorância a respeito da origem e do funcionamento da lâmpada PAR, nome entendido por muitos pelo fato de elas se ligarem de duas em duas, 120v + 120v, ao passo que a ímpar era ligada individualmente em 240v.



Elipsoidal



A curvatura geométrica do espelhamento (área de reflexão) é uma elipse. Tem uma (o liquoidal) ou duas lentes que se movem para abrir ou fechar o foco. A luz é desenhada antes das lentes, através dos obturadores de luz que são as palhetas de corte - as facas, a íris (diafragma) e os gobos (máscaras de efeito) que ficam antes do tubo da lente. A imagem produzida é invertida, de forma que para se cortar a luz do lado direito da luz, fecha-se a faca da esquerda, e vice-verso, e para se cortar a luz em cima do foco, fecha-se a faca de baixo.



A lâmpada do elipsoidal é dicróica, ou seja, seu espelhamento é multifacetado.



Existem ETCs de 05 a 90 graus (ETC – Eletronic Theater Control – empresa americana X Telém –empresa brasileira). Quanto menor a abrangência maior a intensidade (concentração).


Ele pode substituir o PC e o Fresnell, desfocando um pouco para substituir o primeiro e desfocando mais para substituir o segundo.


Moving Light


Inicialmente, Moving Mirrow, o refletor emitia uma luz parada em direção a um espelho que se movia, e assim, refletia uma luz em movimento, de acordo com a lei da física de que o ângulo de incidência é igual ao ângulo de reflexão.



Sua lâmpada é de disparo, logo, fica acesa o tempo todo e sua entrada e saída é determinada pelo diafragma que se abre e se fecha.



Depois vieram os Moving Heads, que emitiam dois tipos de luz em movimento: o Spot (através da lente PC) e o wash (através da lente Fresnell)



Ciclorama / Soft light / Set light



Os três são refletores para se iluminar o ciclorama. O Soft e o Set light são refletores sem lente e a luz é bastante abrangente e assimétrica para banhos de luz.


Um pequeno refletor, chamado Wall-Washer, iluminava os fundo cenográficos da TV. Com a única função de iluminar sets, recebeu o nome Set Light, e pode ser encontrado nos tamanhos pequeno, médio e grande.


Mini-brut



Lâmpadas PXE usadas para iluminar a platéia.




Canhão (Follow Spot/ seguidor)


Pressupõe um tripé e um operador. Sua lâmpada é de disparo, de forma que já deve estar acesa antes de se abrir a íris para se abrir o foco. Ele tem duas lentes, duas facas (palhetas de corte).


O Canhão seguidor tem características parecidas com a dos Elipsos, porém tem ótica mais sofisticada e corpo mais robusto, chegando a pesar 45kg.



LED (Diodo Emissor de Luz)


Não é da realidade teatral brasileira ainda, pelo alto preço. Ela não tem filamento e sua vantagem está na redução de consumo e baixa emissão de calor. Ela tem as três cores-luzes primárias, Red, Green e Blue (RGB) a partir das quais muda a cor de sua luz. Porém, a temperatura-cor de seu branco não é como a de uma luz de filamento, e ela ainda não é dimerizável e não é possível uma mudança lenta de uma cor para outra.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Quem sou eu - Bia Kleber

Olá!
Meu nome é Bia Kleber e eu sou a mais nova colaboradora do Blog do Aurélio. Tenho 25 anos e sou de Londrina (PR), onde comecei a fazer teatro com 12 anos de idade, na Escola Municipal de Teatro da FUNCART, onde estudei e fiz peças até os 15 anos. Então fui para os EUA, fazendo um curso técnico de teatro no Southern Vermont Carreer Center por um ano. Voltei e vim para o Rio de Janeiro, ingressei na CAL, onde fiz um ano do curso profissionalizante junto com a Manu Berardo, que foi onde nos conhecemos. Segui para a UNIRIO, onde estudei por quatro anos e meio o Curso de Licenciatura em Artes Cênicas. Fiz várias peças, tive aulas que marcaram minha trajetória teatral e artística. Fiz estágio dando aulas na Casa de Custódia Frei Caneca. Estagiei com Paulo Trajano, em suas aulas de Expressão Corporal na CAL, com Marco Rodrigo, em sua Oficina de Interpretação para TV e com Analu Palma, num trabalho com atrizes cegas. Danço Butô e dei uma oficina de teatro-dança Butô para a Cia. de Atores Invisíveis, na Fundição Progresso. Faço pós-graduação no Sistema Laban/ Bartenieff na Angel Vianna. Conheci o Aurélio através da Manu. Numa peça dirigida por Ivan Fernandes, eu era stand-in e comecei a acompanhar os ensaios. Percebi a falta dos adereços cênicos em vésperas da estréia e me ofereci para suprir essa falta. A luz dessa peça foi feita por Aurélio, e não me esqueço dele falando no camarim no dia da estréia: "Faço teatro há 30 anos e sei que tem gente que é de teatro e gente que não é de teatro. Você é uma pessoa de teatro." Isso foi em 2006, e eu comecei a estagiar com Aurélio. A primeira peça foi em Niterói, também não me esqueço da viagem na barca com ele. A peça era "Alarme Falso" com Eri Johnson. Aurélio sempre muito atencioso e dizendo "se você não souber de alguma coisa que você vir ou ouvir, PERGUNTE". Depois o acompanhei em "Isadora Duncan" com a Letícia Spiller, em que passei 25 horas ao lado do mestre Aurélio pois após a montagem eu fiquei para assistir ao Aurélio gravando a luz. Também acompanhei o seu trabalho em "Macbeth" e "The Cachorro Manco Show" de Moacir Chaves e a bela luz de "O Baile", direção do José Possi Neto. Fiquei ausente do Rio por alguns anos por questão de saúde, mas agora voltei e estou fazendo a Oficina de Iluminação Cênica com Aurélio, produzida pela EFAL, e também a Oficina de Cenografia com Hélio Eichbauer no Dulcina. O teatro engaja meu ser como um todo, respiro arte e sem ela minha vida seria sufocante. Acompanhar grandes mestres da arte sempre foi uma forma de crescer como artista e como pessoa, e acompanhar o Aurélio é ter acesso não só à grande arte que ele constrói mas também ter acesso à história viva do teatro neste país, pois o "velho" (modo como ele se refere a ele mesmo) tem muita história para contar. E conta, viu? Estar com ele é sempre um aprendizado. Só tenho a agradecer ao mestre, com carinho. Obrigada por ser essa imensa generosidade que você é, Aurélio. Beijos para você e para todos que por este blog buscam um pouquinho de sua maestria.
Bia.

domingo, 23 de outubro de 2011

Concepção de Antoine sobre a arte da iluminação

André Antoine(1858-1943), encenador naturalista francês moderno. Participou da legitimação da encenação como arte no início do século XX, quando o diretor começa a conceber o espetáculo a partir de uma unidade estética. A iluminação está começando a ser utilizada como parte do projeto estético do encenador, ou seja, deixa de servir apenas com intuito funcional para ser concebida como arte.

Referências do período:
Na economia: Capitalismo- objetos com valor de uso e valor de troca. Arte como produto.
Cotidiano: Lâmpada, automóvel, telefone, avião.
Na arte: Naturalismo/ Realismo/ Belle Époque/ Impressionismo
Na literatura: Baudelaire, Zola, Guy de Maupassant.
No teatro: Dumas , Ibsen, Antoine.

LEMBRANDO que a primeira lâmpada comercializável foi inventada em 1879! Thank you Sir Thomas Edison.

À seguir trecho do livro Conversas sobre a Encenação (Ed 7 Letras) em que Antoine expõe sua visão sobre a arte da iluminação:

"E agora vamos à luz!
Aqui a batalha continua sempre viva, e o espírito de Sarcey ¹ ainda se agita. A maioria dos encenadores- com exceção de alguns efeitos de noite evidentemente indicadas no texto- serve-se ainda da luz brutal e crua da ribalta e das lâmpadas no máximo de suas potências.
Entretanto, os equipamentos disponíveis vêm sendo aperfeiçoados admiravelmente a cada dia. Encontramo-nos aqui longe dos tristes candelabros, velas, candeeiros e do gás, visto que após sua origem o progresso foi constante e ininterrupto.
É que a luz é a vida do teatro, a grande fada da decoração, a alma de uma encenação. Somente ela, inteligentemente manipulada dá a atmosfera, a cor de um cenário, a profundidade, a perspectiva. A luz age fisicamente sobre o espectador: sua magia acentua, sublinha, acompanha maravilhosamente a significaçao íntima de uma obra dramática. Para obter magníficos resultados não é preciso temer administrá-la, espalhando-a de forma desigual.
O público, apesar de exclamar diante de um belo cenário habilmente iluminado, ainda reclama quando não consegue distinguir nitidamente o rosto e os mínimos gestos de um ator de sua preferência. Conhecemos sua repugnância por esses crepúsculos, cuidadosamente criados, que longe de incomodar sua percepção a assegura, sem que se dêem conta. Devemos persistir e não fazer concessões. Um dia teremos razão, e até mesmo a multidão acabará por compreender ou sentir que, para constituir um quadro, são necessários valores e harmonias que não podemos obter sem sacrifícar certas partes; ela reconhecerá que assim ganha uma impresão geral mais profunda e mais artística.
Não quero dizer com isso que seja necessário impor ao público um a priori, como esses efeitos de luz demasiado violentos, dos quais os teatros alemães ou ingleses abusaram e que no início nos tinham seduzido pela sua atividade insólita. A profusão, o emprego repetido das projeções, feriria rapidamente o olho do espectador, e esse novo sistema seria tão insuportável quanto o antigo. Mas não devemos temer suprimir, quase sempre a exemplo dos estrangeiros, a luz da ribalta, tão falsa, tão deformadora e que, empregada inteligentemente, não será nunca a principal fonte, mas uma parte discreta e imperceptível da iluminação total." 

domingo, 9 de outubro de 2011

Técnico ou Artista?


 O post deste mês foi extraído do site : http://www.equipashow.com.br e que eu resolvi compartilhar com todos aqui pois levanta uma questão bastante pertinente a nós que trabalhamos com Iluminação. Afinal, somos técnicos ou artistas? Qual sua opinião?

Abaixo o texto na integra:


Trabalho com SONORIZAÇÃO e ILUMINAÇÂO DE SHOWS, sou TÉCNICO ou ARTISTA? Eis a Questão...


Romeu Gomes      

As profissões da área de eventos são técnicas ou artísticas, segundo a visão do CREA são técnicas e devem ser fiscalizadas pelo órgão e sujeitas a apresentação do ART, porém, segundo alguns profissionais do setor, são artísticas e cabe a Delegacia Regional do Trabalho DRT, ao código civil,e ao código de defesa do consumidor fiscalizar a prestação de serviços na área de eventos. Enquanto uma legislação específica ao mercado de eventos não é criada, saiba quais são as leis que regulamentam ou que são mais aceitas como as regentes do setor.
Observando um evento de forma global, as empresas que prestam serviços nesta área como sonorização, iluminação, montagem de palcos e tendas, locação de gradis e alambrados, arquibancadas, segurança, locação de infra-estrutura e do espaço físico para a organização de eventos, prestam um serviço técnico ou artístico? Essa discussão é palco de recentes brigas judiciais e discussões sobre diferentes pontos de vista que envolvem documentação, responsabilidade legal e fiscalização do setor de eventos, que até o momento não conta com uma legislação específica e nem orgão independentes para sua fiscalização.
Segundo a legislação, a lei 6.533/78 regulamenta a atividade técnica e artística de profissionais em espetáculos e diversões, define como artista, o profissional que cria, interpreta ou executa obra de caráter cultural de qualquer natureza, e como técnico, o profissional que, mesmo em caráter auxiliar, participa, individualmente ou em grupo, de atividade profissional ligada diretamente à elaboração, registro, apresentação ou conservação de programas, espetáculos e produções. Que é aplicada, às pessoas físicas ou jurídicas que tiverem a seu serviço os profissionais técnicos ou artistas, para realização de espetáculos, programas e produções. Estes profissionais devem estar devidamente registradas no DRT de âmbito nacional, e que para este registro é necessário diploma no segmento de atuação, e também um certificado de capacitação profissional fornecido pelo sindicato. E define também as responsabilidades dos profissionais e dos empregadores, juntamente com todo o regimento e especificidade das Leis do Trabalho.
O decreto 82.385/78 regulamenta que o exercício da profissão de artista e técnico em espetáculos é disciplinado pela lei 6533/78, que é aplicada às pessoas físicas ou jurídicas que agenciem colocação de mão-de-obra de Artista e Técnico em Espetáculos, e define a qualificação de profissionais como Aderecista, Animador, Assistentes em geral, Produtor, Atores, Iluminadores, Cenógrafos, Cenotécnico, Contra-Regra, Diretores, Coordenadores, Dublador ou Interprete, Editor de Áudio, Sonoplasta, Fotografo, Eletricista de Cinema, Figurantes, Figurinista, Maquiador de Cinema, Microfonista, Operadores de Câmera, Geradorista, Operador de Áudio, Pintor Artístico, Técnico em Efeitos Especiais Cênicos, Técnico de Manutenção, Técnico de Som, entre outras.
Também, temos a lei 5194/66 que regulamenta as profissões de engenharia e arquitetura, e diz em seus termos que é profissional de engenharia e arquitetura, quem realiza empreendimentos de cunho social ou humano envolvendo recursos naturais, meios de locomoção e comunicação, edificações serviços e equipamentos nos seus aspectos técnicos e artísticos, e exige que para exercer essas profissões é necessário diploma de faculdade ou escola superior em engenharia, arquitetura ou agronomia oficiais ou revalidados por uma instituição oficial ou que a critério dos CREA´s tenham seu registro temporário. Assegurando que o título de engenheiro ou arquiteto deva estar acrescido obrigatoriamente das características de sua formação, e que as pessoas jurídicas, para usarem estes títulos devam ser em sua totalidade constituídas de pessoas que possuam tais títulos, e em sua maioria registrados nos CREA´s. Define também que é ilegal que pessoas físicas ou jurídicas exerçam profissões ou atribuições reservadas a estes profissionais, e que é proibido emprestar seu nome a organizações, firmas ou pessoas executoras de obras e serviços sem sua real participação nos trabalhos, define também que essas atribuições são, planejamento ou projeto de obras e estruturas, estudos, avaliações e pareceres e avaliações de cunho técnico; fiscalização e direção de obras e serviços técnicos; E define que cabe ao CONFEA e aos CREA´s a fiscalização desse tipo de projeto ou obra, cabendo especificamente aos CREA´s fazer cumprir a presente lei, e as resoluções deste, e criar inspetoria e fiscalização das obras e projetos. Também, é previsto na lei que cabe ao CREA só poderá exercer a profissão quem estiver registrado no CREA de sua região de trabalho.
E a lei 6.496/77 que cria a ART – Assinatura de Responsabilidade Técnica, que diz em seus termos que todo contrato de execução de obras e serviços de engenharia, arquitetura e agronomia estão sujeitas à ART, e que esta define para os aspectos legais os responsáveis tecnicos pelo projeto, e que a falta da ART sujeita o profissional ou empresa a multa, bem como define os valores e critérios para registrar a ART.
A briga começa, pois os CREA´s entendem que a prestação de serviços na área de eventos é uma atividade de engenharia e arquitetura, que representa risco a sociedade, e alguns profissionais dizem que é uma atividade regulamentada como artística, conforme definido acima. Algumas empresas de sonorização e iluminação ganharam na justiça o direito a não estarem obrigadas a exercer a ART nem se vincular ao CREA de sua região. As empresas se defendem, pois alegam que o problema não é a obrigatoriedade da ART, nem quem pode ou não emitir esse documento, mas sim que não é feita uma efetiva fiscalização das instalações, o que está gerando um comércio de ART simplesmente para se protegerem das multas e das notificações, o que gera um aumento no custo da prestação de seus serviços, sem um real beneficio à sociedade ou a segurança.
É ressaltado que a responsabilidade civil de empresas que exerçam trabalhos na área de eventos e também de outras empresas e prestadores de serviço se dá pelo Código Civil Brasileiro e pelo Código de Defesa do Consumidor – Responsabilidade Civil das Pessoas Jurídicas, e que todos os profissionais que prestam serviços técnicos devem estar devidamente registrados na DRT para o desempenho de suas funções. Enquanto que o CREA é o responsável pela fiscalização e por todas as decisões de primeira instância que envolvam as áreas de Engenharia e Arquitetura, bem como pela manutenção e registro das ART´s, e que os profissionais que desempenhem estas funções devem ser devidamente registrados e com seu cadastro ativo junto ao CREA de sua região.
Com este artigo, não esperamos defender nenhum dos pontos de vista, mas esperamos que os profissionais e empresas do setor de eventos, juntamente com as entidades de classe e os órgãos governamentais lutem para que sejam propostas leis específicas e que se criem entidades capacitadas a fiscalizar as prestadoras de serviços do setor e cada dia mais melhorar a segurança do público e dos profissionais e artistas. Que essa briga, deixe de ser simplesmente voltada a quem cabe a receita gerada pela expedição da documentação, ou, o custo operacional de se manter uma pessoa responsável pela documentação e pela responsabilidade, ou pior que isso, que se estimule um mercado ilegal de comércio de ART´s e Profissionais que vendem seu nome ou seu cargo, simplesmente pelo aspecto monetário, sem sequer saber se essa documentação vai ou não colocar em risco as pessoas envolvidas. E que as entidades responsáveis pelas fiscalizações tanto no cunho da execução da prestação do serviço, quanto no aspecto humano das relações trabalhistas e as responsabilidades civis e criminais das empresas envolvidas na realização e execução das obras e também das entidades fiscalizadoras, não sejam somente voltadas a saber se as receitas provenientes de valores pagos pelos profissionais e pelas empresas a suas respectivas entidades de classe e a órgãos fiscalizadores; mas que também avaliem a segurança, e o risco do patrimônio humano, envolvido nos locais efetivos onde se realizam os eventos, se todas as medidas cabíveis estão sendo respeitadas e somente depois, verifiquem se os valores estão devidamente recolhidos.

FONTES:
www.jusbrasil.com.br – textos integrais das leis apontadas na documentação;
Revista Backstage – N163 – Pg. 30 a 37;
www.creasp.com.br – Legislação e dados sobre ART;
www.sated.com.br – Legislação e registro para DRT;
www.mte.gov.br – Ministério do Trabalho e Emprego;

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Em breve a 1ª Oficina de Iluminação Cênica da EFAL Produções Artísticas com o mestre Aurélio de Simoni! Os preparativos estão a todo vapor. Ainda temos vagas, não percam!!!

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

EMENTA DA OFICINA DE ILUMINAÇÃO



Confiram e opinem sobre a ementa dos módulos I e II da Oficina:

OBJETIVO
Iniciar o participante no universo da Iluminação Cênica, visando introduzi-los nos conhecimentos básicos dos recursos que compõe esta atividade.

MÓDULO I
1) A História da Iluminação
- Seus primórdios
- A Iluminação no Brasil
- A Lei da Regulamentação da Profissão (as três categorias implantadas)

2) Conhecimentos básicos de eletricidade
- Técnicas e cuidados

3) Nomenclatura dos componentes de um espaço cênico
- planejamento, manobras, estruturas

4) Características e funções da luminotécnica mais utilizada no Teatro brasileiro
- Refletores
- Mesas de Luz (consoles e racks de potência)

5) Estruturas de Sustentação de refletores
- Varas, americanas, Q-30, Box’s

6) Procedimentos de Montagem
- Normas a serem seguidas
- O trabalho em equipe


7) Operação de Luz


8) Cor-luz e Cor-pigmento

9) Generalidades

MÓDULO II
1) Sensibilidade, criatividade e técnica: o trinômio da criação

2) O passo a passo da criação
- Leitura do Texto
- Visão dos Ensaios
- Conversas com a Equipe de Criação
- Conversa com a Direção
- Estruturação da Produção de Luz
- A Montagem
- A afinação da luz
- A gravação da luz
- Os ensaios técnicos
- A estréia
- A passagem da Operação de Luz
- As visitas de verificação

3) A Leitura Dramática da Luz
- Angulação, intensidade, dinâmica de movimento.

4) Alguns experimentos não convencionais utilizados.

5) Relatos de “casos’ durante criação de luzes de alguns espetáculos

Oficina de Iluminação em Outubro e Novembro!

A EFAL Produções Artísticas produz sua primeira Oficina de Iluminação cênica!
Serão dois módulos, sendo o primeiro de iniciação e o segundo focado no processo criativo.

MÓDULO 1- OUTUBRO
Do dia 3 ao dia 28
2as e 4as de 19:30 às 21:30
8 encontros de 2hs + aulão de 4hs no teatro no sábado dia 28/10

MÓDULO 2- NOVEMBRO
Do dia 7 ao dia 30
2as e 4as de 19:30 às 21:30
8 encontros de 2 hs + aulão de 4hs no sábado dia 26/11

As aulas acontecerão em um espaço maravilhoso no Jardim Botânico.

Em breve, Workshops, aulões, prática de montagem e palestras. Aguardem!



segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Amorzinho

Confiram a luz do Aurélio na peça Amorzinho em seu último fim de semana no Glauce Rocha (quinta à domingo às 19hs). A direção é do Orã Figueiredo, a direção de movimento de Márcia Rubim e o cenário de Flavio Graff. Este conto de Tcheckov é encenado de forma dinâmica mantendo o texto na sua forma original. O elenco é composto por Raquel Iantas, Saulo Rodrigues e Lourival Prudêncio que dão vida aos treze personagens do conto neste Romance-em-cena. Assisti e recomendo!

Raquel Iantas comenta o trabalho do Aurélio:
"Anos de profissão e só agora na minha primeira empreitada como produtora tenho a chance de trabalhar com o mestre da luz Aurélio de Simoni. Eu já conhecia o seu belíssimo e reconhecido trabalho como espectadora e agora tive a alegria de vê-lo trabalhar. A dedicação do Aurélio é estimulante e logo no primeiro ensaio a que ele assistiu senti que ele seria um grande parceiro. Esse talvez seja o segredo do Aurélio, o “mago da Luz” : Talento e dedicação. O resultado é a belíssima contribuição que a luz dá ao nosso espetáculo."

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A HISTÓRIA DA ILUMINAÇÃO CÊNICA




" Light, seeking light, doth light of light beguile;
So ere you find where light in darkness lies,
Your light grows dark by losing of your eyes.”

 William Shakespeare


Desde o ano passado venho desenvolvendo um trabalho de pesquisa em torno da iluminação cênica. Este trabalho de cunho acadêmico está sendo orientado pelo iluminador e professor Jorge Carvalho Moreira e procura investigar as possibilidades da iluminação cênica em torno das exposições museográficas em museus, salas ou espaços especificamente preparados para esse fim nos centros culturais da cidade do Rio de Janeiro. Resolvi compartilhar com vocês do blog um pouco desta pesquisa.
            A parte que me cabe neste trabalho é fazer um levantamento da história da iluminação cênica. Afinal existem poucos estudos sobre este assunto e precisamos saber de onde surgiu esta preocupação com a luz no que diz respeito à construção de uma linguagem cenográfica da luz. E aqui no blog espero dar uma contribuição no sentido de ampliarmos nosso pensamento sobre a iluminação cênica também através do viés histórico, afinal como disse o historiador francês Marc Bloch, para compreendermos o presente, devemos estudar o passado.  Em um primeiro momento minha pesquisa esteve direcionada para a obtenção de material teórico para adquirir o conhecimento necessário a respeito da historiografia da iluminação cênica. Esse primeiro passo mostrou-se extremamente importante para que entendêssemos as mudanças tecnológicas através dos tempos.
Os primeiros estudos a respeito da historiografia da iluminação cênica, apontam o teatro grego como sendo o precursor na questão. Neste teatro a iluminação é exclusivamente natural. As peças em sua grande maioria eram apresentadas a luz do dia, ao nascer do sol e as vezes avançavam a noite. As edificações eram construídas de acordo com a posição do sol, isto é, havia uma grande preocupação para que a construção destes espaços obtivesse um aproveitamento máximo da luz solar. Durante a Idade Média (476 – 1492 dC.), o teatro estava quase que exclusivamente voltado para os dramas litúrgicos e a iluminação era favorecida pelos vitrais das igrejas. Posteriormente, quando as apresentações passaram a ser apresentadas também ao ar livre, em praças públicas ou nos adros das igrejas, a iluminação por meio da luz solar, mais uma vez volta a ser o principal sistema. Outras representações, como comédias satíricas e apresentações circenses, que eram executadas em tavernas e castelos, eram iluminadas com tochas e archotes. A partir do séc. XVI o teatro passou a ser representado também dentro de espaços fechados. Estes teatros possuíam amplas janelas para entrada de iluminação solar, que eram abertas nas apresentações vespertinas. Nas apresentações noturnas muitas velas garantiam precariamente a visibilidade. A vela foi durante muito tempo o único sistema de iluminação que os teatros possuíam. Durante os séculos XVII e XVIII surgem os candelabros que passam a ser usados com maior freqüência. Em geral, estes artefatos eram enormes e iluminavam tanto o palco quanto a platéia. Os encenadores ainda não conheciam a iluminação como linguagem e as pessoas que freqüentavam os teatros, muitas vezes, iam para serem observadas e não para observar. No início do séc. XVIII foram feitos alguns experimentos utilizando-se sebo na fabricação de velas, porém tal experiência acabou não obtendo êxito  devido ao mal cheiro exalado e problemas de irritação nos olhos dos espectadores e dos atores. Em 1783, Ami Argand cria um tipo de lampião a óleo menos bruxuleante, os famosos lampiões Argand. Em seguida veio o lampião Astral francês, criado por Bernard Carcel, produzindo uma luz mais constante. Os lampiões eram bastante inconvenientes, pois além de sujar o teto, as cortinas e os estofados, corria-se o risco de pingar gotas de azeite na cabeça dos artistas e do público. Nos EUA usava-se o óleo de baleia, na Europa experimentou-se o colza ( um óleo extraído de um tipo de nabo) e a terebentina destilada. A grande desvantagem na utilização deste tipo de equipamento era o perigo constante dos incêndios e a iluminação, além de fraca e bruxuleante, não podia ser controlada. Neste mesmo período, paralelamente à pesquisa de fontes combustíveis, iniciou-se também a preocupação com a posição das fontes de luz. Iniciam-se também as primeiras tentativas de ocultar as fontes de luz. Surgem então, as primeiras noções de ribalta, arandelas, contra-luzes e luzes laterais. A partir do século XIX o gás começa a ser utilizado como combustível para os sistemas de iluminação. Os primeiros registros de sua utilização em teatros datam de 1803, mais especificamente no Lyceum Theatre de Londres. Neste mesmo período aparecem as primeiras mesas de controle de luz. Em 1879, Thomas Alva Edson fabrica as primeiras lâmpadas de incandescência com filamento de carbono. É o surgimento da era da eletricidade, que passa a ser amplamente empregada no teatro a partir da segunda metade do século XIX.  Com a eletricidade em uso no teatro, começam a surgir os primeiros movimentos em relação à uma utilização da luz como forma de linguagem artística. A luz agora passa a respeitar e a servir às estruturas e os objetivos da cena. A partir desta nova estética proposta pela luz, pode-se perceber uma separação nítida entre palco e platéia. A luz agora passa ao status de participante do espetáculo e não mais um mero suporte. A iluminação integra-se à cenografia e passa a auxiliar a representação da realidade, sugerindo impressões e buscando revelar a materialidade e o significado das coisas. A luz elétrica provocou mudanças nos conceitos da cenografia e do figurino, alterando definitivamente o aspecto visual dos espetáculos. O cenário pictórico é substituído pelo cenário construído (objetos reais, portas, móveis, paredes, etc.). A partir do século XX começam a se desenvolver equipamentos de iluminação especialmente preparados para a iluminação teatral. Com estes equipamentos temos a possibilidade de alterar as formas por meio de sua focagem e regular a intensidade da luz.
Por hora é isso, vou parando por aqui pra não me estender mais. Até o próximo post!



*Luz, procurando a luz, a luz do acaso, a sedução da luz;
Mas, antes que você descubra onde está a luz na escuridão,
Sua luz escurece com a perda de seus olhos.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Aurélio por Bia Gondomar:

"Comecei a trabalhar em teatro 'dando uma força' nas produções onde minha irmã Ana Velloso trabalhava como atriz no início da carreira. Até que fui trabalhar de contra-regra no infantil 'Tá na Hora, Tá na Hora' da Lúcia Coelho, no Teatro Vanucci, em 1994, e conheci o Aurélio. A estréia foi bem confusa e nos reunimos no corredor do shopping da Gávea. O Aurélio assumiu a frente da reunião. Parecia até o diretor da peça. Eu, que ainda não conhecia nada de teatro, não entendi muito bem aquilo: o iluminador falando e apontando os erros, muito incisivo, como se fosse o diretor da peça e a autora e diretora só ouvindo calada. Fiquei até com um pouco de medo.
No ano seguinte, abri a Lúdico junto com a Ana Velloso e a Vera Novello, e a partir daí, todos os projetos da empresa (ou quase todos) tiveram a assinatura do Aurélio. Primeiro, porque é genial, trabalhando e criando luzes lindas com muito ou pouco recurso. Além disso, porque, ao longo destes 17 anos, o Aurélio passou a ser um amigo, com quem podemos contar sempre.
Aurélio faz parte da história do teatro brasileiro, é uma lenda. Responsável por ensinar e formar algumas gerações de iluminadores, lightning designers e outras denominações, o nosso Emendador de Fio e Acendedor de Lampadinha, tem um coração gigante e uma generosidade excepcional.
Em 2009, fizemos juntos 'O Bem do Mar', no Teatro do Leblon e o cara me fez chorar quando vi a luz que ele fez pra aquela peça.
Agora, estamos iniciando mais uma jornada.
Querido Aurélio, é muito bom ter você na nossa história. Um beijo.
Bia Gondomar"


domingo, 7 de agosto de 2011

Colaboradores do Blog - Quem sou eu?

por Raphael Cassou

Difícil falarmos sobre nós mesmo, não é? Mas vamos lá num esforço de abstração falar sobre o Raphael Cassou. Afinal quem é mesmo Raphael Cassou?
Comecei minha "carreira" no mundo teatral um pouco mais tarde do que normalmente se começa, embora o "vírus" do Teatro já estivesse  inoculado e adormecido na minha pessoa. Lembro-me até hoje de um longínquo dia de 1992 ou 93 (não sei ao certo) ter assistido no pequeno auditório do Teatro Guaíra em Curitiba (sim, eu sou curitibano da gema) a peça O Vampiro e a Polaquinha, baseado no texto de Dalton Trevisan. Ao ver aquele povo no palco a sensação que tive é de que queria estar ali me divertindo com aquele pessoal. Por que sim, eles me pareciam estar se divertindo muito no palco! E eu queria fazer aquilo, afinal sou um menino que gosta de brincar. Entretanto, o desejo ficou adormecido por mais alguns anos. Mais precisamente 7 anos, até concretizar o desejo de me dedicar integralmente às Artes Cênicas. Pererequei por outras profissões  e só percebi que seria completo enquanto pessoa se tivesse o Teatro como ofício. A imagem que me vêm a mente com certa recorrência, numa tentativa de explicar minha escolha é a do circo que passa pela cidade do interior, te arrebata e te conquista. E quando o circo segue viagem, você foge com ele pra permanecer sonhando.
Pois bem, Anos mais tarde, já decidido a me tornar um ator e viver exclusivamente deste ofício. Mas esse metiê nos reserva surpresas. Ser uma pessoa de Teatro é ser um profissional que transita por vários segmentos. Em alguns momentos você atua, em outros você trabalha por trás do palco. E vai aos poucos vivenciando e aprendendo o que é esta profissão.
E foi por causa disto que acabei parando meio que por acaso no mundo da iluminação. Estava precisando cursar uma matéria eletiva na UNIRIO, pois eu sou aluno do curso de Teoria do Teatro, e meio que por falta de opções de horário acabei escolhendo a aula de Iluminação I de um certo professor Jorginho de Carvalho. Comecei a frequentar as aulas e ao poucos fui me empolgando e pegando gosto pela coisa. No semestre seguinte me matrículei em Iluminação II pra dar sequência ao que havia estudado no semestre anterior e também para pagar minhas matérias eletivas. Já posso dizer que estava contaminado pela luz também.
Ao fim de uma aula o professor Jorginho me convida pra fazer um trabalho com ele. Aceito e fico feliz com a oportunidade. E a partir deste primeiro convite, não parei mais de trabalhar com iluminação e com o Jorginho de Carvalho, grande mestre dos magos, como costumo dizer. Hoje sou bolsista de Iniciação Científica da UNIRIO e estudo a Iluminação Cênica e suas origens. Além disso, sigo como estagiário do Jorginho e a cada nova empreitada, uma grande descoberta. Como ator, hoje eu sei valorizar ainda mais o trabalho do profissional de luz. E como assistente de iluminação do Jorginho de Carvalho, aprendi - como diz o mestre - a "pintar com luzes"!

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Aurélio indicado ao Prêmio Shell 2011

Aurélio acaba de ser indicado pela iluminação do espetáculo "Filho Eterno" em cartaz no Oi Futuro do Flamengo até o dia 11 de setembro. O espetáculo, dirigido por Daniel Herz, é um monólogo em que o ator Charles Fricks interpreta o pai de uma criança com síndrome de down em seu difícil processo de aceitação. Charles também foi indicado ao Shell por sua brilhante atuação neste espetáculo. O texto, de Cristovão Tezza, foi adaptado para o teatro por Bruno Lara rezende. Quem não assistiu, não perca!
Ah, a propósito, Aurélio, você pode contar um pouco como foi o processo de criação da luz deste espetáculo?

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Aurélio por Cândido Damm:

O ator e diretor Cândido Damm trabalhou algumas vezes com Aurélio, desde o início de sua carreira na década de 80, e nos conta com exlcusividade um pouco do exercício apaixonado de Simoni pelo teatro. Confira abaixo seu depoimento:                                                                                                                                                                                                                                                                           "No início do ano de 1983 eu ensaiava o que seria meu primeiro espetáculo profissional como ator, uma idéia vinda de um curso com o Pessoal do Despertar, e que se chamava 'O Homem que não foi a São Paulo', textos do Sérgio Porto, com direção do Claudio Torres Gonzaga.  Até então ouvia falar do Aurélio como um mito vivo, já naquela época, o iluminador de 9 entre 10 espetáculos, só dava ele, um nome sem rosto na minha imaginação. E eis que surge o tal Aurélio um dia pra assistir um passadão, nós nervosos e de uma inexperiência juvenil vergonhosa em todos os sentidos. Acabado o ensaio, aquele homem, já maduro e muito sério, disse em tom grave que tinha achado um horror, que nós, jovens que éramos, tínhamos obrigação de mostrar vigor e pique e que estávamos muito frouxos. E mais, que só faria a luz se daí a alguns dias visse um ensaio melhor. Dito e feito, nos retratamos internamente e daí a alguns poucos dias estávamos todos mais disponíveis pro trabalho, suando a camisa, como deve ser. E ele fez a luz, ou meljhor, a luz se fez, pois foi uma lição, a primeira, da qual nunca esqueci e agradeço a ele desde então: Suar a camisa, não economizar e não fazer por menos a única coisa que me proponho a fazer, a trabalhar como homem.
Trabalhamos juntos desde então em dezenas de espetáculos, uns mais memoráveis do que outros, lembro muito de uma luz linda que ele fez, toda branca, pro “Tá Ruço no Açougue”, versão clown do Santa Joana dos Matadouros , do Brecht, em versão do Antonio Pedro, título dado pelo saudoso e imprescindível Nelson Dantas, meu colega na peça.

Ao longo desses anos vi Aurélio dar cria, eu olho em volta e vejo que os iluminadores mais inseridos no mercado hoje em dia aprenderam o ofício com ele. Montando, operando, limpando refletores, virando noite em cima de escada e de manhã comendo pão com mortadela e café em copo de plástico.
De uma generosidade extrema, tive mais mostras disso nas duas oportunidades que dirigi e o convidei pra assinar a luz. A primeira, “Conversinha Mineira”, coletânea de contos do Fernando Sabino que fizemos em salas de aula, pátios, praças e o escambau, e pra coroar tanto empenho resolvemos ousar fazer uma temporada num teatrinho no Museu da República, sem dinheiro, sem nada, só com a coragem. Aurélio veio correndo, fez uma luz linda, viu que não tínhamos de onde tirar dinheiro e pegou fios e bocais do carro dele, praticamente patrocinou a montagem. No dia da estréia ele, que tinha outro compromisso agendado, de um espetáculo que, este sim, pagava e bem, me disse que não estaria presente, mas que estava tudo pronto, e que o operador daria conta. Segundo sinal, eu no balcão com meu caderninho, vejo ele entrar esbaforido e me procurar com o olhar, deu um sorriso e se fez entender de longe que tinha conseguido deixar alguém lá na outra peça e vir, para nossa calma e para minhas lágrimas imediatas e súbita incompreensão: - Por que esse cara gosta tanto de mim, do teatro, do ofício, da vida?
Na minha outra direção, “Alcovas de Cetim” de Regiana Antonini, um delicioso solo da talentosa Ines Viana, esteve sempre presente, divertindo-se e nos divertindo, fez uma luz linda, remontou em outro teatro, com o empenho e a amizade de sempre.
Professor de todos nós, amigo extremo, camarada de um bom humor invejável, carinhoso, honrado, ético, os predicados não acabam.  Aurélio é uma das pessoas mais generosas que conheci em toda a minha vida e que quero ter sempre por perto, trabalhando, gargalhando, ralando e se divertindo, que é o sentido desse ofício que ele entende tão bem e faz dele uma das pessoas mais importantes da tribo. Vida longa, Mestre, conto com você!
Candido Damm, agosto 2011"

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Aurélio por Isaac Bernat:

       "Falar de Aurélio de Simoni é falar da alma do teatro. Não há outro igual a ele no teatro carioca e arrisco dizer, no teatro brasileiro. Falar de sua excelência como iluminador é redundante. Além do seu talento e olhar artístico, ele é incrivelmente sensível, flexível e surpreendente. Seus vários prêmios comprovam isto, mas o seu maior prêmio é o amor e o respeito que conquistou de atores, diretores, técnicos, críticos, estudiosos, alunos e do público. Aurélio além de ser admirado por todos e pelos próprios colegas iluminadores (muitos aprenderam com ele) é um mestre, um pedagogo. Mas, o querido Mestre Aurélio não ensina só sobre iluminação, atuação ou direção, Aurélio nos ensina sobre a vida, sobre ética e dignidade. A primeira vez que trabalhei com Aurélio em 1983, na peça Folias do Coração, eu tinha três anos de teatro. E ali, começou nossa amizade e uma parceria sólida, terna e eterna.
            Aurélio se emociona com o teatro. Ah como precisamos disso!  O bom teatro, aquele em que eu acredito, se faz com gente como Aurélio de Simoni. Sem Aurélio, muita peça não teria estreado no Rio de Janeiro. A sua generosidade e entrega, construíram o teatro brasileiro dos últimos 35 anos.
 Um beijo no seu coração e obrigado por tudo, meu querido “emendador de fios e acendedor de lampadinhas.”
                                                           Isaac Bernat "

terça-feira, 12 de julho de 2011

A 1ª vez a gente nunca esquece- parte 4

"Ponto de partida"- A primeira criação artística:  A partir do ofício de operador de luz no SESC Tijuca, Aurélio passou a ter contato com outros iluminadores e a entender melhor o ofício do profissional da iluminação cênica. No mesmo ano, o espetáculo ‘Mistério das nove luas’, com direção de Íllo Krugli, foi montado no Sesc. Aurélio conta que foi aí que começou a entender a importância da luz dentro do espetáculo. A criação era de Jorginho de Carvalho, iluminador que ele já ouvira falar bem nesta época. Em agosto daquele ano, Jorginho foi montar uma peça adulta e uma infantil ao mesmo tempo no Sesc da Tijuca (AS QUATRO PATAS DO PODER – direção de Clovis Levy e O LEITEIRO E A MENINA NOITE – direção do próprio iluminador), após esta montagem Aurélio foi chamado para ser um de seus assistentes. No ano seguinte, em 1979, criou a sua primeira luz em um espetáculo que curiosamente chamava-se ‘Ponto de partida’ de Gianfrancesco Guarnieri, com direção de Haroldo de Oliveira. A transição do operador de luz para o criador, iniciou-se pelo fato de que algumas peças chegavam ao Sesc sem iluminação definida, o que fazia com que Aurélio opinasse na montagem de luz destes espetáculos, no mesmo período em que fazia a assistência aos espetáculos de Jorginho de Carvalho. Para dar conta dos dois empregos contava com a ajuda de Dona Laura na Rede ferroviária que o avisava quando o chefe saía para almoçar e quando chegava. Neste tempo, que durava cerca de três horas, Aurélio colocava algumas almofadas no chão e dormia profundamente. Costumava dizer que se morresse ferroviário morreria frustrado. Em julho de 1980, o iluminador pediu licença sem vencimento na Rede ferroviária. Ao final da licença de seis meses, pediu a revogação do contrato trabalhista.

A 1ª vez a gente nunca esquece- parte 3

O primeiro emprego com iluminação: No ano seguinte (1977), o espetáculo ‘Ambrósio, o boneco’ foi remontado no Sesc da Tijuca e Aurélio foi convidado a voltar com suas funções. Neste teatro, pela primeira vez, Aurélio experimentou um “botão mágico” em que “a luz acendia e apagava devagar”, ou seja, foi apresentado a um painel de comando, ou mesa de luz dimerizada. Uma outra temporada infantil era realizada no mesmo espaço, era o famoso texto de Ziraldo FLICTS, que ocorria logo depois da primeira peça. A atriz que fazia a personagem “cor violeta” precisou ser substituída, e Aline passou a trabalhar nesta peça também. Assim, Aurélio que ficava com Marcelo esperando Aline passou a estar mais tempo no Sesc da Tijuca. Jacaré, o operador de luz do segundo espetáculo trabalhava na TVE e sugeriu que ele aprendesse a operar a luz de FLICTS, já que muitas vezes ele precisava ficar mais tempo na tevê e precisaria ser substituído. No fim de 1977, Jacaré, o operador de luz do Sesc da Tijuca entrou em litígio com Mauro A. Silveira, o administrador do teatro. Aurélio foi convidado a ser o novo operador de luz e a princípio se opôs, já que trabalhava de 9:00 às 18:00 na Rede Ferroviária. Porém, após negociação, ficou estabelecido que o novo funcionário chegaria às 19:00, e em janeiro de 1978, Aurélio era oficialmente o operador de luz do Sesc da Tijuca.

A 1ª vez a gente nunca esquece- parte 2

O 1º trabalho do Aurélio no teatro: Alguns anos se passaram e Aurélio casou-se com Aline Molinari, que algum tempo depois, iniciou seus estudos para tornar-se atriz. Na época ele era funcionário da Rede ferroviária. Em 1976, no segundo ano do curso técnico de formação da FEFIERJ (Federação das Escolas Federais Isoladas do Estado do Rio de Janeiro, atual UNI-RIO), Aline foi chamada para fazer um espetáculo infantil chamado ‘Ambrósio, o boneco’ no Teatro Cacilda Becker. Marcelo, o filho do casal, na época com quatro anos de idade ficava com Aurélio e a avó D. Luzia (mãe de Aline) nos finais de semana, quando a mãe ia ensaiar. No dia da estréia, ao ser perguntado pelo pai o que gostaria de fazer, Marcelo quis ir ao teatro assistir a mãe. Como a maquiagem de Aline demandava muito tempo por ser de elaboração minuciosa, a família chegou cedo ao Cacilda Becker. Foi quando Aurélio diz ter começado a entender o que era o teatro no Brasil, pois deparou-se com o diretor, operador de luz e som e ator (não da peça em questão) José Roberto Mendes com o produtor Sérgio Baker carregando o cenário do espetáculo para dentro do teatro. O metrô do Largo do Machado ainda estava em obras,e a kombi precisou parar na praça José de Alencar. Aurélio se ofereceu para ajudar a carregar os adereços cênicos, e ali desempenhou sua primeira função no teatro. Na época, o teatro Cacilda Becker não possuía mesa de luz, contava com chaves monofásicas na parede, onde era preciso enganchar os dedos nas chaves, como se fosse um “liga-desliga” de interruptores. O espetáculo estreou, todos agradeceram, e no dia seguinte, ao ser perguntado pelo pai, o menino novamente quis ir ao teatro. E novamente a família chegou cedo ao Cacilda Becker para que Aline pudesse fazer sua maquiagem. Aurélio ao entrar no teatro deparou-se com todo o cenário embaixo das escadas, o que o deixou muito aborrecido. Prontamente pôs-se a remontar a cenografia do espetáculo. Quando chegaram o produtor e o diretor, ambos se surpreenderam com a arrumação do palco e Aurélio indignado contou-lhes o que acontecera. A explicação era simples, um espetáculo adulto ocorria pela noite, o que causava o necessário afastamento dos elementos cênicos de ‘Ambrósio, o boneco’. No fim-de-semana seguinte, Marcelo mais uma vez quis ir ao teatro. Aurélio passou então, a ser oficialmente, o contra-regra da peça. Pouco tempo depois, Zé Roberto, o diretor, operador de luz e som, foi viajar pela periferia do Rio atuando na peça ‘Arena contra Zumbi’ como ator e logo Aurélio foi apresentado a um gravador de rolo AKAI e aos roteiros de luz e som. Passava a ser acumular as funções de contra-regra, operador de luz e som. Em dois meses a temporada acabou e a vida do funcionário da Rede ferroviária voltou à normalidade.

A 1ª vez a gente nunca esquece- parte 1

A 1ª vez do Aurélio no teatro: Foi como integrante do grupo MOCA (Movimento Cultural e Artístico - grupo de estudantes entre 15 e 17 anos que tinha como objetivo melhorar o acesso das pessoas da Zona Oeste carioca à cultura). Aurélio participou de uma pequena temporada realizada no Teatro Arthur Azevedo, em Campo Grande. Na época morava em Bangu. O Moca tinha um banco de livros, reuniões e intervenções artísticas, mas foi cassado e dissolvido pela ditadura. Aurélio nem pensava em iluminação, já que em sua primeira atividade, sua função era como cantor do MOQUARTETO na peça ‘Zé Menino, Vida e História’, de autoria do próprio grupo.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Colaboradores do Blog - Quem é Ana Luzia?

QUEM SOU EU
por Ana Luzia
Cheiro forte de teatro na memória da mente, do corpo. Enfim, fui abalroada por uma enorme onda de amor pelo teatro desde que nasci. Deixei-me afundar nela, e hoje me sinto uma colaboradora dessa arte. Comecei fazendo cursos livres de interpretação, estou com meu profissionalizante trancado no meio (é, pois é, mesmo dentro do teatro, as vezes é muito difícil estar na área que você escolheu), e depois me tornei técnica em iluminação! Que reviravolta! Mesmo que eu seja filha de iluminador, e estejamos no século XXI(aos machistas insistentes), é uma reviravolta. Hoje sou responsável técnica pelos Teatro Poeira e Poeirinha, e tenho uma visão muito maior do que se diz TEATRO. Quero quebrar essa barreira de que nele só se pode fazer uma coisa só. Quero ser atriz, foi o que eu escolhi, e aprender LUZ... Acho que a palavra já nos enche de tanta coisa boa. E ainda por cima a benção de aprender com ele! O mestre!! O meu pai... Nada melhor, mais intenso. Um patrimônio do teatro brasileiro que eu vejo crescer sempre. Que mostra toda a completude que o teatro nos proporciona, desde aquele cafezinho durante o trabalho, até as famosas "audácias" propostas pelas mentes que ali criam juntas, na incansável tentativa de mostar os mais diferentes mundos... Ah o teatro... Ah pai, mestre querido, obrigado por me conduzir por este caminho!

domingo, 22 de maio de 2011

Colaboradores do Blog- Quem é a Manu?


QUEM SOU EU
por Manu Berardo

Sou carioca, 25 anos, arte educadora, atriz e estou dando os meus primeiros passos como preparadora corporal (Obrigada Márcia Rubim!). Fiz licenciatura em dança da Faculdade Angel Vianna e pós graduação em Preparação Corporal para atores na mesma instituição. Atualmente estou cursando Interpretação na Uni-Rio (e amando). Fiz vários cursos livres na área do teatro, treinei com afinco Acrobacia Aérea na Intrépida Trupe por 3 anos e pratiquei Yoga durante alguns anos no Espaço Nirvana. Pratico meditação sem disciplina.
Trabalho com crianças desde o início da minha trajetória profissional, atuei em escolas, Ongs e projetos sociais e atualmente estou me dedicando à criação de uma metodologia de balé para crianças pequenas através das aulas que ministro. Adoro estudar e me interesso por antropologia, estética, artes, filosofia e política. 
Amo escrever, tenho a escrita como uma das minhas atividades favoritas desde a infância. Também amo o Aurélio de Simoni (desde um pouquinho depois da infância que foi quando o conheci). Este Blog é uma homenagem ao Aurélio, homem de teatro, que merece ter sua trajetória registrada, e é também um espaço para se escrever sobre teatro, para pensar teatro a partir da temática da iluminação. Vâmo que vâmo!

sábado, 21 de maio de 2011

Bem vindos ao Blog!

Seja bem vindo ao Blog do Aurélio de Simoni! Aqui você encontrará o registro da história profissional deste grande iluminador e assuntos relacionados à iluminação cênica, tais como: a história do iluminador no Brasil, a legitimação da profissão, a história da iluminação no Brasil e as suas relações com a tecnologia, as relações e consequências das políticas culturais com o iluminador/iluminação. Teremos também um espaço de dicas de iluminação do Aurélio com posts escritos por ele sobre os seguintes assuntos:
- Fundamentos da iluminação
- Técnica
- Prática
- Processo criativo
- Mercado de trabalho
Frequentem, divulguem e comentem! Até mais!

Quem é o Aurélio?




QUEM SOU EU
por Aurélio de Simoni

AURÉLIO DE SIMONI, Iluminador, trabalha na área teatral há mais de 34 (trinta e quatro) anos, executando também incursões em óperas, shows, espetáculos de dança, exposições, convenções e iluminação arquitetural. Começou suas atividades como quase todos aqueles que militam na área, ou seja, por curiosidade ou para ajudar algum parente ou amigo, desenvolvendo, depois, um acompanhamento com profissionais que já exerciam a profissão, angariando, assim, conhecimentos que o permitiram galgar os degraus desta atividade considerada “fundamental” para a existência da Iluminação Cênica.
Durante os quatro primeiros anos desenvolveu as atividades de eletricista em espetáculos e de operador de luz. Depois, com os ensinamentos adquiridos começou a sua carreira de Iluminador, sendo responsável pela criação de mais de 500 (quinhentos) espetáculos teatrais e outros tantos nas demais áreas (shows, exposições, etc...).
Na sua carreira foi agraciado com 20 (vinte) prêmios por criações na área teatral, isto sem contar com as inúmeras indicações alcançadas.
Tem, na sua trajetória, trabalhos realizados com Diretores, Atores, Atrizes e demais profissionais de Teatro, tais como: Fernanda Montenegro, Bibi Ferreira, Sérgio Brito, Paulo Autran, Marília Pera, Celso Nunes, Domingos de Oliveira, Aderbal Freire Filho, Amir Haddad, Miguel Falabella, José Possi Neto, Moacir Chaves, Daniel Herz, Hélio Eichbauer, Fernando Mello da Costa, Kalma Murtinho e outros mais.
Alguns espetáculos criados:
- AS LÁGRIMAS AMARGAS DE PETRA VON KANT – Teatro dos Quatro
- EMILLY – Teatro Cândido Mendes – Teatro Cultura Artística
- O CARTEIRO E O POETA – Teatro I do CCBB
- O INIMIGO DO POVO – Casa da Gávea
- MASTER CLASSE – Teatro do Leblon – Sala Marília Pera
- SERMÃO DA QUARTA FEIRA DE CINZA – Espaço Cultural Sérgio Porto
- CONDUZINDO MISS DAISY – Teatro Ginástico
- AS ARTIMANHAS DE SCAPINO – Teatro Miguel Fallabela – Teatro das Artes
- MORTE E VIDA SEVERINA – Castelo de São Jorge - Lisboa
- DIVÃ – Teatro Laura Alvin
-UM BOÊMIO NO CÉU – Teatro Villa Lobos
- A TARTARUGA DE DARWIN – Teatro SESI Graça Aranha – Teatro dos Quatro
- AÇAÍ E DEDOS – Teatro Oi Futuro Flamengo.
- TOSCA – Teatro Municipal.